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domingo, 25 de agosto de 2013

Ele não vai ligar.

   


   Ela saiu sem nenhuma expectativa. A festinha estava até legal, mas ela decidiu tomar três copos de vodka para se animar, e olha que funcionou. Sorriu que nem uma tonta o tempo todo, e ia ao banheiro de dois em dois minutos. Sim, não estou brincando, isso de fato aconteceu.
   Dançar era uma possibilidade inaceitável, na realidade, ela nem cogitava isso. Ficava parada, ou muitas das vezes mexendo os pés para tentar disfarçar um pouco. Ela estava animada. Não dançar não significava que a festa não estava boa, e sim que lhe faltava coordenação suficiente para mostrar o seu gingado. O copo não saia de sua mão e ela bebericava o líquido que estava nele com uma certa frequência.
   A música estava alta o suficiente para que uma conversa ao pé do ouvido não fosse audível. O jogo de luzes a deixava tonta e quase a cegava, já que ela estava sem seu grande amigo: os óculos. Mas isso não era motivo para sair da pista, ou deixar de ficar na rodinha com seus amigos, coisa que só mais tarde foi acontecer.
   Ela estava se sentindo bonita. Em geral, isso não acontecia com muita frequência. Uma boa dose de maquiagem foi posta sob seu rosto, trajava uma roupa discreta e nada de salto alto. Ela sabia que se colocasse salto no meio da festa o tiraria, e aquilo de fato era super deselegante. Uma hora depois de haver chegado na festa o seu batom havia ido embora. Sua boca estava rosada por conta da bebida que estava ingerindo. 
   A grande maioria da festa era composta por casais. Ela se deu conta disso, mas não se sentiu incomodada. Na realidade, se sentiu incomodada quando um carinha invadiu a rodinha dos seus amigos para perguntar a ela porque ela estava desanimada, porque ela não dançava. Sutilmente ela apenas respondeu que não sabia dançar, mas que não estava desanimada ou algo do tipo. O cara insistia em puxar papo, e o cunhado da amiga dela resolveu ajudá-la. Chamou o cara no canto e disse que ela estava acompanhada. Ufa, o carinha chato e insistente foi embora. Ela suspirou de alivio. 
   Em uma das suas idas ao banheiro um rapaz percebeu que ela não estava tão legal. Perguntou como ela estava e o seu nome, ela claramente o respondeu e ele se apresentou. A conversa acabou por aí.  Ela voltou para a pista e reparou nesse rapaz por alguns momentos. A primeira vista ele era lindo. Deliberadamente seus olhos estavam diante do garoto. Ele era alto e magro e não saia do lado de seus dois amigos. Mas aí ele sumiu. 
   Já esgotada, a chamaram para ir embora, mas ela não podia. Neste dia dormiria na casa de sua amiga e a mesma estava animada o suficiente para ficar até o dia amanhecer. Recusou o convite e foi para o sofá para tentar se recuperar, ou descansar as vistas - meus óculos estão em casa - ela lembrava. Seus amigos depois de algum tempo também foram para o sofá, e conversa vai, conversa vem, ela perguntou para sua amiga sobre o tal rapaz que havia conhecido. Ela disse que ele tinha ido em outra festa mas que voltaria. De seus lábios um sorriso tímido brotou e uma esperança súbita. 
   Algum tempo se passou e ela continuou no sofá. Seus amigos intercalavam entre as outras partes da casa, mas naquele exato momento havia mais três pessoas ali sentadas ao seu lado. Eis que o tal garoto apareceu. Sem hesitar ele foi logo sentando ao seu lado e transpassando o braço ao redor de sua nuca. Ela se contraiu, mas não o impediu. O cara perguntou se ela estava bem e se lembrava o seu nome. Ela riu e disse que sim. Sem delongas, ele tentou beijá-la. Ela hesitou e disse que não o conhecia e que eles nem haviam conversado.
   Conversa vai, conversa vem, um beijo foi roubado. Um beijo não, vários. Ela perdeu as contas, não que contasse, mas naquele momento ela perderia até sua memória. Depois de algum tempo, uma parada básica para tomar fôlego. Sua respiração estava ofegante e a dele também. Eles riram. Conversaram mais, beijaram mais. Hora de ir embora. Não, dela ir embora não, dele. Seu amigo estava como condutor naquele dia, e como estava à deriva, queria ir para casa. Ele apenas aceitou os fatos e pediu o número do telefone dela, mas como estava sem celular pediu para seu amigo salvar nos contatos dele. Um beijo de despedida veio à tona. Um até breve ou adeus?
  Ela voltou para o sofá e fechou os olhos. Estava confusa. Cochilou, acordou assustada, sorriu. Seus amigos sentaram ao seu lado novamente. Cochilou, trocou de posição, seus amigos saíram de lá. Estava consciente de tudo. De repente alguém apareceu na porta. Alguém não, ele. Num milésimo de um segundo ele sumiu e logo em seguida apareceu novamente e já foi sentando ao seu lado. Sem falar nada, seus lábios afundaram sobre os dela e seus olhos se fecharam. Ela acreditava que quando os olhos se fechavam a magia poderia ser sentida com mais precisão. 
   O tempo foi passando e já era madrugada. Ele teria que ir embora novamente, e agora era pra valer. Ela estava sonolenta. Naquele instante a despedida foi mais contida. Um beijo um tanto demorado e um "eu vou te ligar". Aquele foi o fim ou o início? Eis que aquela pergunta se tornou uma incógnita, um x na equação. 
   Uma noite mal dormida. Um domingo sonolento. A festa deixou um gostinho de quero mais, várias novidades para aquele dia e vários sorrisos bobos saindo involuntariamente de seus lábios. 
   Os dias foram se passando. Uma agonia, uma contagem de dias e uma inquietude foi dominando-a. Ele não ia ligar, e isso se cumpriu, ele não ligou. Aquilo a deixou um tanto frustrada. Por que ele não ligou? Será que ela teria feito ou falado algo que ele não gostou? Não. É que quando não é para ser, não vai acontecer. O cara não ia ligar. Geralmente, eles nunca ligam. O problema não foi com ela e muito menos com o momento. Ele apenas não ia ligar. Ela ficou sem saber se ele ao menos se lembraria daquela noite, coisa que ela nunca saberia. 

4 comentários:

  1. Canalizou sua expectativa frustada em um ótimo texto. Meus parabéns jovem escritora!

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  2. Gostei amiga, parabéns! Uma boa escritora! Mas uma pergunta: é verídico ? :D

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  3. É que quando não é para ser, não vai acontecer. kkkkkk Parabéns amiga, ficou legal ( havia, estão, e etc. ) beijos ♥ por Dianny

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